
Como surgiu a ideia de O Vendedor de Sonhos?
Como todos os meus romances, não conseguiria escrevê-lo apenas para entreter. O meu objectivo é sempre defender teses psicológicas, sociológicas, filosóficas e trazer assuntos polémicos para o debate das ideias. O Vendedor de Sonhos está carregado de fenómenos sociológicos, tem muitos transtornos psiquiátricos e também traz uma série de teses filosóficas. Este livro já está a levar as pessoas a fazerem uma viagem interior. No Brasil já são 400 mil exemplares em poucos meses. Os leitores estão a perceber que vivemos numa sociedade que deixou de sonhar. Precisamos de ser vendedores de sonhos, em casa, nas aulas, nas relações afectivas.
É um vendedor de sonhos?
Sou um pesquisador da psicologia, pensador da filosofia e autor de uma nova teoria, que estuda a construção do pensamento humano.
Esta obra enquadra-se nos livros de auto-ajuda, na medida em que faz as pessoas repensarem a sua existência para serem felizes?
Este livro desenvolve o pensamento crítico, não dá soluções mágicas. É um livro que leva as pessoas a sair da zona do conformismo, do medo neurótico de não entrar em contacto com as suas mazelas, para serem seres humanos que assumem quem são e reconheçam os seus limites e fragilidades.
É isso que é preciso para ser feliz?
A felicidade não é linear, não é fruto de uma casta, não é um dom genético. A felicidade é um processo de conquista. Uma pessoa para desenvolver uma emoção com o máximo de prazer tem de aprender a fazer muito do pouco. Quem precisa de grandes eventos e sucessos para expandir o prazer de viver asfixia a sua emoção. É necessário fazer das pequenas coisas um espectáculo para os olhos, para ser feliz.
A sociedade está doente?
Vivemos numa sociedade doente. O normal é ser doente e stressado. A sociedade se converteu num manicómio global. Por isso é que eu grito nos meus livros que esta sociedade é um manicómio global, e toda a gente está a concordar. Onde estão as pessoas tranquilas? Onde estão as pessoas que param os carros para contemplar uma praça com flores? Onde estão as pessoas que param para escutar este pássaro? Os romanos viviam 40 anos em média e nós vivemos 70/80 anos, mas a vida média biológica aumentou e a vida média emocional diminuiu. Já notou que a vida passa rápido? Não percebe que daqui a uns anos vamos estar na solidão de um túmulo? O que precisamos de fazer para viver o máximo dentro do mínimo? Temos de ser gestores do nosso tempo, caso contrário somos vítimas do nosso próprio sucesso.
É feliz?
Sou muito feliz. Sou apaixonado pela vida, pelas minhas filhas. Tento fazer o máximo dentro do mínimo.
Como se distingue uma pessoa feliz de uma pessoa conformada com a vida?
Uma pessoa conformista é escrava das ideias tirânicas, tais como «não tenho capacidade», «não consigo conquistar», «não faço a diferença na relação com as pessoas» ou «não consigo libertar o meu imaginário para criar soluções para os problemas». Uma pessoa que acha que está destinada a ser uma fracassada tem um pensamento mórbido. Quem crê em destino também é uma pessoa que vive uma vida pessimista, angustiada, contraída. O destino não é inevitável frequentemente. O destino é uma questão de escolha. Alguém que não consegue filtrar estímulos stressantes tem hipersensibilidade. Uma pessoa sensível preocupa-se com o amanhã, uma pessoa hipersensível vive o amanhã como se fosse real. Uma pessoa sensível preocupa-se com a dor do outro, uma pessoa hipersensível vive a dor do outro. Pessoas hipersensíveis desenvolvem transtornos emocionais como depressão, sensação de vazio existencial, mente agitada, irritabilidade, flutuação emocional.
Quais as soluções para essas pessoas serem felizes?
Primeiro deve-se parar para pensar e criticar cada ideia perturbadora e cada pensamento negativo, reciclando as imagens que angustiam. Segundo, deve-se proteger a emoção. É fundamental doar sem esperar de mais o retorno. Quem espera de mais vive uma vida miserável, porque os íntimos são quem mais nos decepciona. É fundamental entender que por detrás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida e não se pode exigir o que uma pessoa não pode dar.
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O Vendedor de Sonhos
«Neste livro o protagonista é um maltrapilho que aparece numa metrópole, no meio de um cruzamento e vê um homem querendo se matar. No alto está um doutor em sociologia, um gigante na ciência, mas um menino na maturidade emocional. É um professor universitário rígido no teatro da sala de aulas e fechado no teatro social. É um pai distante do seu filho, que não sabe lidar com contrariedades, nem conquistar o território da emoção. É um péssimo amante e a sua esposa tinha de girar na órbita dos seus caprichos. Aquele homem aparentemente seguro como muitos homens rígidos na nossa sociedade derreteu a sua segurança e numa crise depressiva, pensou em suicídio como acto final de uma vida pessimamente vivida. Até que o misterioso personagem vence todas as barreiras e chega ao topo do edifício, senta-se no parapeito, desembrulha um sanduíche e começa a comer. O homem usou a técnica psicoterapêutica de não repetir os mesmos chavões e as mesmas soluções que toda a gente repete. Ele surpreende o suicida e começam a conversar. O doutor em sociologia, perplexo com aquele maltrapilho, pergunta-lhe quem é. E o maltrapilho diz que é um Vendedor de Sonhos e que, para os que pensam em colocar um ponto final na sua vida, ele procura vender uma vírgula.»
Filipa Estrela
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